Já notou que as coisas estão cada vez mais descartáveis? Que enquanto um eletrônico, antigamente, durava 20 anos, hoje ficamos felizes se um chega ao final de seu primeiro? Minha mãe tem uma máquina de costura que outrora pertenceu à minha vó, e ela ainda funciona... e bem! Já se eu comprar uma máquina agora, não terá restado nem sombra, daqui a meio século, para que minha netinha saiba que ela algum dia existiu.
Uma vez, falando de anatomia, ouvi que, para fazer funcionar um rádio velho que enguiçou, basta meter-lhe um tapa. Por outro lado, basta também um único tapa para quebrar um rádio novo. O intuito era fazer uma analogia com o corpo humano, o qual, ao “enguiçar”, poderia voltar a funcionar caso recebesse um tapa violento, o choque elétrico (do desfibrilador cardíaco). Este mesmo choque, recebido por uma pessoa viva e saudável, a mataria com certeza. Apesar de ter sido usada como uma mera analogia, esta idéia possui um sentido real que chega a ser preocupante.
Se os produtos estão, de fato, deliberadamente sendo produzidos com a finalidade de durarem pouco, de forma a manter alto o índice de consumo deste e de qualquer produto, surge a pergunta: Para onde foi a ética?
Os próprios consumidores parecem não notar, ou sequer se interessar pelo desaparecimento da mesma: condicionados a esperar ansiosamente pelo próximo lançamento, não param para pensar se há realmente necessidade de um modelo mais novo e avançado, com alguma nova característica mirabolante – mas nada essencial.
Em que ponto está o limite para induzir as pessoas ao consumo desenfreado? Seja onde estiver, este foi ultrapassado há tempos. As pessoas são atacadas pela ausência de ética no design de ambos os lados, tanto na propaganda quanto na qualidade do produto em si, de forma a não lhes deixar grandes opções, a não ser recordações nostálgicas de como as coisas pareciam durar mais em um passado remoto.
Para um designer que almeje vender suas idéias ao mundo, é compreensível que queira que as engrenagens do mercado jamais parem de girar, permitindo-lhes seu sustento. Mas causar um superaquecimento no mercado, levando as pessoas a um consumismo insano chega a um ponto em que o objetivo é esquecido. Desejar que suas idéias vençam não tem, incluso em si, o desejo de produzir com qualidade? Você não desejaria ser o designer da máquina de costura da minha avó, inteira e trabalhando até hoje, sem jamais deixá-la na mão? Não sentiria orgulho de ter produzido algo que ultrapassasse as barreiras da moda e do tempo?
Esses sim são os verdadeiros objetivos para um designer. Objetivos que, lado a lado com a ética, trazem contentamento aos dois lados do mercado. Eu desejo isso. Ultrapassar as fronteiras, inovar idéias, e, acima de tudo, manter minha integridade intacta.
Você não?